Neste shopping, tudo beira ao marasmo. Há lojas, pessoas e compras. Nos corredores, disputando espaço com bancos, pilastras e letreiros digitais, existe uma outra categoria de estabelecimento que se apresenta como a opção mais próxima do consumidor.
Nela, não é preciso entrar no recinto para olhar e sair sem pagar. Nessa invenção chamada quiosque, o balcão é feito para se debruçar e tocar objetos que, tão caros quanto em um loja normal, encantam por serem mais palpáveis aos frequentadores.
As estratégias para atrair a freguesia exigem um show a parte dos seus vendedores. Cada um à sua maneira, e sempre com pouca idade, oferecem seus serviços de marketing direto.
A moça de touca, por exemplo, convida mãe e filhos gordinhos a degustarem o polvilho doce, o casadinho e outras delícias feitas artesanalmente com muito açúcar industrial.
No expositor de camisetas, a estratégia está na identificação adolescente com as estampas de super-heróis. Na falta de poderes, vendem carapuças de morcego, de aranhas, de homens verdes e de alguns seres estelares.
Mas não se engane em ver beleza em tais quiosques. O apelo visual em tão pouco espaço ocorre porque as lojas em si possuem aluguéis mais caros e demandam maiores estoques e poder de convencimento. Nos estandes de venda, ao contrário, é possível contratar pequenos aprendizes a salários curtos e escalas injustas.
Na dúvida trabalhista, os donos argumentam que são apenas pequenos empreendedores em busca de um futuro próximo no qual poderão, se as vendas assim ajudarem, explorar novos vendedores por meio de gerentes. Nada mais gratificante do que terceirizar uma bronca.
Mas há quiosques que emanam sua própria magia ao público. Não se trata, porém, de encantos das bugigangas eletrônicas expostas ou das comidinhas grátis oferecidas para degustação. Trata-se de uma mágica sincera feita por quem tira da cartola o seu ganha pão. E é dela que se alimenta esta história de amor.
Bem-vindos a um conto de Romeu e Julieta sem famílias ricas, mas com as devidas pitadas de podridão que só o poder pode oferecer. É a história de um amor sincero ao trabalho, que independe de sua visibilidade social. Nada muito shakespeariano e com doses de romantismo delimitadas pelo horário comercial.
Afinal, a volta para casa é longa demais para outro sentimento que não o sono.
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