Por que fraquejamos?

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Porque temos medo…

Temos medo de reclamar, de dizer ao soldado que frequentamos aquela rodoviária diariamente e que o nosso direito de estar ali é maior do que o arame farpado que a cerca, de que sua autoridade e do fuzil que ele carrega.

Temos medo de pedir de volta nossos mendigos e camelôs que sumiram de um dia para o outro. A nação recebe autoridades internacionais e não há um DVD pirata sequer, sendo vendido a 5 reais. Não há mais um mendigo embaixo de papelão.

Temos medo de nosso próprio caos. Medo de dizer que a população merece a mesma atenção, ou até mais, que os árabes tiveram em Brasília. Não dá para deixarmos de ser importantes por um dia para que uma cúpula vingue.

Temos medo de bater em nossas secretarias de saúde e ouvir que a morte do aposentado foi uma fatalidade. O posto de saúde não estava aberto e o velho morreu com seu guarda-chuva, protegendo-se do Sol. Ele precisava de atendimento. Mas o ponto facultativo – que foi nossa felicidade por não trabalhar graças aos árabes – causou-lhe a morte. Ainda não aprendemos que nossa saúde, ou a falta dela, não entra em recesso.

Temos medo de ir ao dentista e de saber que não temos condições de cuidar dos dentes. Não temos dinheiro, mas quem se importa? Saúde é supérfluo para quem não tem plano de saúde. Ou então: filas quilométricas.

Temos medo de se indignar pois a economia perpassa o social. Nossos acordos econômicos conseguem atingir as Arábias. Contudo, nossos prontos-socorros não têm médicos para Clínica Médica. Ah, pelo menos a fila que se formou hoje era composta mais por mães aflitas e seus filhos à espera da pediatria.

Temos medo de lutar contra as injustiças. E também de poder errar ao tentar julgar a realidade. Afinal, quem somos nós para dizermos alguma coisa?

Temos medo das críticas de alguns afortunados que estão em posição privilegiada e, por isso, não precisam ter tanto medo do dia seguinte.

Temos medo de sermos tachados de ridículos por pensar que algo está errado, por querer mudar. No dicionário, aos poucos, a palavra social vai ganhando aspectos bastante generalistas. “Da sociedade ou relativo a ela”. Não diz muito.

Temos medo de denunciar as diferenças sociais. Pois não teremos respaldo para isso. Afinal, a diferença se constitui do maior pelo menor…e não são eles que ficam por baixo.

Temos medo de lutar em vão.

Vejam o nosso histórico, quantos já tentaram? E o que vemos hoje?

Temos medo de nosso próprio medo.

O medo de morrer sem ter tido a coragem de tentar.

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