O vento em uma foto 3×4

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Há alguma imagem que possa me mostrar como é o vento depois de despido dos elementos da natureza que o cerca? Tenho essa curiosidade porque é assim que me sinto: como o vento que não se movimenta – o mesmo que escancara janelas, sopra árvores, derruba casas, bagunça o cabelo e traz a chuva. Mas, ao contrário de seu dia-a-dia, não tenho a mesma capacidade de empurrar as velas em alto mar e muito menos criar um pequeno redemoinho no quintal de casa.

É fácil representá-lo quando o associamos a algo. Mas ninguém diz nada sobre ele calmo, parado, sem pretensão. Será que quando não está muito a fim, ele deixa de secar roupas e de criar a brisa?Sinto-me muito aprisionado a minha própria existência. Tenho responsabilidades, vida social, faculdade e tantas outras atividades que nem sei mais para que faço tudo isso. Se é que cheguei a ter um significado para tudo.

Mas como seria se eu pudesse parar de me movimentar um pouco mais, não ser cobrado pelas minhas atitudes e nem cobrar de ninguém. Brincar de ser rebelde com minha própria rebeldia e não questionar, não decidir,não sair do lugar. Apenas ser como o vento que não sopra, que não assobia e muito menos provoca maresia.

Não quero ser responsável pelo voo da asa-deltas. Muitos endereçam ao vento a responsabilidade de indicar caminhos e levar destinos. Eu sou um deles, mas não gosto disso. Não é justo delegar responsabilidades a alguém que para ser notado precisa tremer tudo a sua volta. Mesmo a ponte mais resistente balança, quando boceja. Só que o vento também pára. Todavia, não deixa de existir. Também não se esconde, porque não há para onde esconder. Ele só se cansa e vê que, apesar de todo esforço, quase tudo continua do mesmo jeito.

As folhas caídas vão para o lixo e outras nascem.Os prédios derrubados com fúria não são nada em comparação aos restos das eternas guerras. Ele não é tão forte como pensam as pessoas. Sofre muito com a meditação daqueles que param e vêem os galhos balançando, os pássaros voando. Sofre ainda mais com aqueles que abrem os braços, fecham os olhos e respiram calmamente.

Muitos agradecem ao vento pela sensação agradável no contato com a pele. Contudo, poucos sabem que o vento precisa passar. Ele também quer seguir seu próprio caminho. Quer deixar de ser tão presente. Quer parar, deixar as angústias de lado e sentir uma boa brisa. Mas não pode. Está condenado a agradar. E só resta chorar.

Mas quando chora, são os temporais, as oscilações nas correntes marítimas que o lembram como suas lagrimas podem causar sofrimento no mundo.

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