Na trilha para Oria, as romãs se rompiam de maduras no pé. À dona do pomar carregado, perguntei o motivo da desatenção com a colheita. Ela me contestou educadamente: e deixar os meus pássaros morrerem de fome?
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Todo dia uma senhora de cabelos acinzentados vai ao cemitério onde fica o túmulo do famoso escritor. Sua missão é regar um pequeno parreiral plantado ao lado da cova. No lugar de uva, floresce poesia.
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Os gatos dominam as ruas de pedra com seus dejetos. Entre as hortas, circulam livremente podendo levar doenças diversas aos mais idosos. Mas são cultivados como deuses. Afinal, são os únicos habitantes vivos ao meio dia.
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Quem mora no alto de Valsolda sabe que os joelhos não podem reclamar contra as escadas que se multiplicam em cada canto. Eles são os únicos que não se aposentam por ali. Até no velório são lembrados. Afinal, a Igreja fica no topo de uma longa escada.
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Do lado dos gatos, também tem igreja e seus idosos. O lugar é bonito do alto, mas o caminho sujo de caca. No mirante, de um lado avista-se bem as montanhas nevadas. Do outro, os cabelos brancos de um senhor com sua enxada. Ele cavuca a terra no frio, sem medo da chuva que se avizinha. É ele que dá vida às rúculas e radiches de Albogasio.
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Um senhor ancião que cantarola todos os dias a mesma música enquanto fatia presuntos e queijos não pode ser visto como alguém de má índole. Seu primeiro nome, Pitton, porém, o remete a uma cobra. E essa primeira impressão permanece, mesmo desconstruída logo após o primeiro contato em sua quitanda. É a força de um nome que tem como característica bote dissimulante de uma serpente. O fato é que seu sobrenome diz muito mais sobre seu ofício diário: Serrano.
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Naquele bar, falam-se falam todas as línguas. Mas ainda se come o preconceito contra todos aqueles vencem na vida longe de suas origens e que hoje, literalmente, põem a mesa a servem aos italianos locais.