Observo uma senhora idosa com senha preferencial, cercada por outros tantos na fila de matrícula da hidroginástica. Seu nome deve ser Abigail — como explicarei logo mais.
Logo se percebe que a tal preferência etária cria uma nova fila, mais demorada do que a dos novatos. O idoso mais idoso acaba sendo o verdadeiro preferente (os 80+ são poucos). Já o velho mais novo até preferiria a senha comum, embora saiba, pela experiência da vida, que normalidade não existe em nenhuma idade.
O tricô não ocupa mais as mãos de quem espera. A ordem na recepção se organiza entre cadeiras disputadas, sacolas e celulares. Palavras cruzadas? Talvez uma ou duas. O laudo cardiológico, por sua vez, virou item obrigatório para quem carrega setenta ou mais anos.
Entre os que chegaram cedo e somam mais tempo de cadeira, estão os mais bem-humorados. Fazem piadas sobre a idade, tocam uns nos outros, conhecidos ou não, com uma intimidade de veteranos.
Também se destacam as mais ansiosas, de maiô, touca e roupão. Vieram prontas para dar um tchibum ali mesmo, no guichê. E os homens? Esses ou já se foram ou se fazem de rogados — são raros na fila. Pelo visto, não se exercitam e mal se alongam no trajeto entre casa e pré-matrícula.
Voltamos, então, à senhora do início. Parece ter nascido de sete meses. Devia ser a mais baixa da turma e a primeira a responder à chamada. Seu nome só pode ser Abigail Aparecida. No concurso, provavelmente foi a primeira a entregar a prova. A filha mais nova que nunca se casou. Pais militares, pensão ativa.
Abigail deve ter boa formação, pois entende de siglas e leis. Por isso, na máquina de senhas, apertou sem hesitar a opção TEA — sem diagnóstico prévio nem pudor. Diante de meia centena de idosos à espera, não pensou duas vezes em sentar-se no atendimento usando a nova credencial.
Hidroginástica garantida. Essa, não se enganem, vai se exercitar com as outras que conseguiram vaga — e ainda mijar na piscina. O tchibum te espera, Abigail!