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No caminho com Kariane, pensei:
No começo, diziam aos jovens
“Não se contaminem!”
E invadiram nossas cabeças
Venciam os que furaram a greve
Em troca de serem folhas brancas
De quem detivesse a caneta.
No jardim ficaram os espertos
No chão de fábrica, os comprometidos
Os primeiros riam dos nossos estudos
Os segundos ainda lutavam por algo.
Esqueceram o Nordeste
Caricaturaram o Norte
Embranqueceram o Sudeste
Fizeram do Sul, outro país.
Abandonaram o público
Restou-nos Centro-Oeste
E sua máquina de apertar botões.
Bastavam os cliques e afagos
Ficamos ali nas baias, jogados.
Enquanto sofríamos calados.
Ignoraram as denúncias, o assédio
Ameaçaram-nos com censura,
sindicâncias e perseguições.
Esquartejaram nossas mentes
Extirparam nossa saúde
Por fim, adoecemos.
Demitiram o mensageiro da epidemia
E não fizemos nada…
Estávamos doentes.
Descontaram a dor em pecúnia
E não fizemos nada…
Tínhamos medo e fome.
Até que tropecei (tropeçamos) em uma pedra
Dessas que brilhavam, preciosa
No meio do caminho, tinha Kariane.