Meu amigo Drummond

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Se caneta tivesse para escrever uma carta e deixar na estátua do Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana, assim escreveria:

Meu amigo Drummond,

Frente a essa pandemia, quem não adoece é tolo. Não sei se foi assim contigo, lá na época da febre amarela. Hoje, tocar no outro nem quando é para matar mosquito.

Teve exílio, separação e fuga.
Teve quem nunca mais vestiu um calção. Teve lockdown lá fora e folia na rua.

A loucura foi tanta que não tinha mais jeito de fazer poesia com o Carnaval ou outro tipo de estrepolia.

Beijar na boca? Só se fosse em casa, mas casal não se amassa como dois amantes na praça.

Todo dia é um “E agora, José? seguido de uma nova variante.  Como gozar da vida com tantas idas e vindas?

A máscara não serve para se proteger da saliva, calar quem precisa ou esconder as más línguas.

Agora que chegou um rescaldo, tudo cai na conta de uma tal hipomania. A escrita de madrugada, regida por essa animada e perseguida sinfonia de  “idas”.

Mas antes que te irrite com a fraqueza dos versos, te peço a licença para te chamar de amigo.

Antes fosse nome de mulher em vez dessa fraca rima, seria uma Ida bem mais querida.

Portanto, deixo-te aí quieto na eternidade. Pelo andar das coisas, em breve a gente acaba se esbarrando.

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