Lincancabur acostado

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O vulcão adormecido não buscava motivo para acordar. Os incas velaram seu sono com radicalismo e sacrificio. Permanecia descansado.

Vieram os espanhóis e pilharam o que lhe era dado como adoração. O vulcão abriu as pálpebras, enxergou uma grande cruz e optou por não compartilhar seu fogo com aquele inferno cristão.

Com o tempo, surgiram distintos turistas. Aos poucos, deixavam, não adornos, mas rastros de destruição. Faltou-lhe a água subterranea para aquecer. Sentiram a escassez os flamingos, raposas e biscatias. Baforejou gases de insatisfação. A terra tremeu, um susto de magnitudes ímpares. Mas manteve-se ali, estável.

Depois de milênios, quando a vida humana já era escassa e altamente nociva, finalmente se incomodou ao ver uma pequena e formosa montanha ir aos ares. Um túnel se passaria por ali.

A frieza dos seus gelos se pôs a derreter. Viu sua filha, obra de uma vida, desmoronar-se diante dele. E acordou num último suspiro, consumindo-se por inteiro em ódio e magma.

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