Filosofia Cazuza

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“Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão, da caridade de quem me detesta!”

Todos aqueles que já entraram em depressão alguma vez devem entender o que significa Cazuza para a sua vida. Todos aqueles que viveram um amor, provavelmente, devem saber o que significa Cazuza para a sua alma. Todos aqueles que se prenderam na velha retórica de dizer que Cazuza não presta, não foram capazes de sensibilizar com as músicas e contextos. Com a melodia, harmonia, ou pelo menos com a filosofia cazuziana. É muito mais fácil ficar aparado pelas críticas ao comum POP ROCK NACIONAL. É comum, né? E você quer ser diferente. Tudo bem, eu te entendo, mas você não sabe o que está perdendo.

As letras do Cazuza entram em situações de sua vida com a facilidade dos acontecimentos. A felicidade, a tristeza, todos os sentimentos são expressados da forma mais instigante para que cada momento não seja somente um mero momento. Penso muitas vezes que o próprio Cazuza não viveu tudo aquilo que escreveu. Floreou muito. Exagerou muito. “Exagerado, jogado aos seus pés, eu sou mesmo exagerado”. Então, do que vale suas músicas? Vale para dar mais valor ao comum. Isso é tão verdade que, ao escrever, estou dando a essa filosofia uma abordagem romântica, bem utópica. Por quê? Porque a vida é louca, vida.

O filme que narra a fama de Cazuza consegue expressar um pouco dessa loucura. “Cazuza – O tempo não pára”. Apresenta um pouco de frieza inicial e depois muita, muita emoção. Depois de ter visto o filme pela segunda vez, você se pergunta como há poesia em algumas palavras que, a priori, seriam xingamentos. (Atenção: quem se mantém muito conservador não deve ler as palavras – impróprias – a frente). “Caralhoooooo!”. ” Merdaaaa!”. “Porraaa!”. Tais palavrões nunca tiveram tamanho conteúdo como no filme. Deixaram de ser meras interjeições (a palavra é essa?) para atuarem como parte essencial da narrativa. Afinal, o significado dessa vez valeu muito mais que a própria conotação vulgar dos termos.

Como no filme, a filosofia Cazuza nos diz que somos NADA e somos TUDO. A vida pode parecer maravilhosa, porém é vaga. Da mesma forma, viver uma vida vaga pode ser maravilhoso. É a lógica de sempre procurarmos algo que preencha o estranho vazio que acorda com a gente. E tem a música, a droga, o sexo, o vírus, a rebeldia, a revolução, a balbúrdia, a guerra, a paz, a fé, a religião, a depressão, a alegria desmedida, a dor, os rituais e também a escrita para preenchê-lo.

E a gente exagera no que nos dá maior prazer. E a gente inventa, vê a cara da morte, sempre querendo algo. Foi o que Cazuza quis. Ele errou muito ao tentar isso. E nós podemos errar ou acertar nessa busca. Mas o importante é exagerar. Para depois, arrepender-se por excesso, e não por falta. “Exagerado, jogado aos seus pés… eu sou mesmo exagerado”

Eita. A crônica acabou: “Merdaaaaaaaaaa!” (e muitas risadas…)

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