Estar e ser

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Se hoje me perguntam se sou jornalista, respondo que ESTOU. Estar é um estado de espírito. Estamos casados, separados, enamorados, depressivos, felizes. Mas, se me perguntam hoje se sou escritor, respondo que SOU.

Já achei que estava escritor e que podia parar. Veio o vazio da escrita, a falta da palavra e do ânimo. Vi que estava vazio. Mas não consegui ser nada. Em algum momento, você lembra o que é. Se estou jornalista, pesquisador, serralheiro, sedentário, ativo, é porque estar basta.

Quando estou mal, ser escritor me leva para frente.

Fiz um livro, humilde, parte de algo incompleto, mas agora está público. É meu primeiro livro como escritor, mas ainda está inacabado. Faltam duas partes, que eu poderia entregar como dois novos livros. Mas ele É parte viva do primeiro livro. E está pronto para ganhar mais massa corporal.

Hoje ele se chama Menina Mágica, mas um dai será outro título.

O que digo com isso é que muitos fazem caminhadas, ouvem música, apagam seus cérebros, leem, e desconectam-se do seu arredor para se reencontrarem com o que SÃO em vez de como ESTÃO. Nada mais justo. Mas comigo não funciona assim. Tive que sentir no corpo e na alma a ausência de mim para entender que sou também o que escrevo.

Não se trata de um resumo. Trata-se da minha vida. Então, ser escritor é mais que uma profissão, até porque, convenhamos, ela não se sustenta como tal. Esse sim é um estado que gostaria. Mas ser escritor é o que me alimenta no dia a dia, que me faz vivo.

E por que não morri quando deixei de escrever?

É porque o que se é não se para a não ser que morra. Por isso, ainda havia uma escrita invisível me alimentando em aparelhos, cuidando do resto de fogo enquanto tudo se esvaía.

Como a escrita voltou?

Ela voltou comigo ou eu voltei com ela? Não sei responder porque nunca houve real separação. Apenas estávamos conflitantes nesse tanto de estar mal, tolhido, esquecido.

Por isso, não adianta mentir. Se Shakespeare já questiona o “to be” da existência, nada vai te afastar do que você realmente é. Basta estar disposto.

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