Dono do seu citroën antigo, o motorista de aplicativo parou rente ao semáforo fechado.
Ajeitou a gola polo da camisa amarela enquanto via, pelo retrovisor, o cliente no banco de trás.
— Me ajuda a compá café. – ecoou um som de fora.
A voz vinha de um homem pardo com a fala consumida pelo álcool. Ele vendia pipoca doce.
— Me ajuda a compá café! – insistiu ao motorista.
Diante da negativa inicial, mudou o tom de sua abordagem.
— Óia, tô igual que nem o sinhô. Me ajuda a compá café – disse enquanto mostrava a estampa de sua camiseta preta. Nela, havia o rosto e o nome de um candidato à reeleição presencial impressos no branco. Não havia outras cores, mas a associação já estava feita.
O dono do citröen, empático à pseudoproximidade, devolveu-lhe palavras de cortesia.
— Continua vendendo que você consegue o dinheiro.
— Mas moço, ninguém tá compando. Me ajuda, tô que nem você.
— Esse horário não é bom para pipoca doce. Mais tarde você consegue – aconselhou-lhe.
O sinal abriu e o condutor seguiu em frente com seu patriotismo em dia.